06 agosto, 2009

Dos Hábitos Que Não Deveríamos Ter!

Por Cau Alexandre

Algumas vezes procuramos estratégias para melhor realizar certas ações, principalmente as mais rotineiras. Nessas estratégias acabamos por criar mecanismos que nos tornam capazes de realizar a dita ação mais facilmente, porque achamos o 'famoso' jeitinho pessoal. Então as coisas fluem. Você escova os dentes todos os dias e nem sente mais. Você prepara seu prato preferido do jeito que você gosta e não como estava na receita, por isso ele se torna seu prato preferido! Prepara sua mala, faz o seu café, até caminha na rua com o sorriso 'preparado' pra encontrar os conhecidos e perguntar retoricamente 'tudo bem?' (é bem verdade que já nem se ouve essa pergunta... muito menos se espera a resposta). Tudo então se torna um hábito. Aprendemos isso desde o dia que nascemos. Fome? Desconforto? Choro... Daqui a pouco o choro não é só pela necessidade, mas pela manha... por saber que é uma ótima estratégia! Hábito! Como dizem alguns, nos habituamos a tudo!


O fato interessante e controverso disso é que alguns de nós nunca se habituam àquilo que fere, com dores profundas, com decepções intensas. Hoje já não posso dizer se muitos ou poucos não se habituam a isso, já que o verdadeiro hábito da humanidade é direcionado ao instinto de preservação que a impele a sentir e reclamar se aquilo que sucede estiver diretamente ligado a si mesmo. Se for ao vizinho próximo, ao amigo mais chegado, talvez!!!! Aos demais seres da humanidade? Jamais! Como não interfere na sua própria e tão grande 'umbiguista' existência, então não há o que sentir! Meu caro leitor, eu disse alguma mentira, alguma calúnia contra o tão inefável amor ao próximo da humanidade? Acho que não...

Não me entendam mal. Não há nada de errado em pensar em si mesmo... no próprio bem-estar e em estratégias de não estar em sofrimento... Como disse isso faz parte do instinto de preservação. A pergunta é: A que preço? Qualquer ação, qualquer decisão, qualquer dor infligida, qualquer desconsideração, qualquer deslealdade, qualquer omissão é justificada em nome da preservação própria? Vale tudo desde que eu fique bem? Desde que o meu 'eu' esteja bem? Perdemos os valores morais que diziam que há o limite do respeito pelo sentir alheio? Não que se viva em função do outro, não que se entregue a dádiva e a responsabilidade da felicidade pessoal a outro, pois são realmente dádivas e realizações pessoais. Acabou-se a lealdade ou passamos a ser leais somente a nós mesmos?

Vivemos dias em que o "Foda-se" não é mais um grito exausto depois das tentativas de fazer o certo. É a frase de cabeceira!!!!

Que me perdoem àqueles que pensam na preservação própria acima de qualquer coisa, eu não consigo me habituar a isso. Já tentei... Liguei o botão "foda-se" e disse... "daqui em diante só vou me interessar pelo meu próprio bem-estar". Desisti no final da frase. Por quê? Por que sou boazinha? Por que minhas qualidades são maiores ou melhores? Que nada... Eu sou tão egoísta e ruim quanto qualquer ser humano. Mas não me permito pensar em viver em mundo sem um mínimo de lealdade, de integridade, de amor ao próximo que não seja aquele que me paparica... Já que amor aos que estão realmente próximos e aos nossos bajuladores é inevitávelmente fácil! Difícil e realmente complicado e ainda ter respeito pela dor alheia, independente que seja alguém de perto ou de longe, amigo ou não!

Nossos dias são tão tortuosos, que realmente já me envergonho de não me habituar a ser escusa, mentirosa e desleal com o sentimento alheio. Estou profundamente envergonhada da minha incapacidade em ignorar o sentimento do outro e passar com o meu trator de ego sobre qualquer sentimento que não seja o meu ou que não faça parte do meu plano pessoal de total realização (é, algumas vezes, nós humanos também fazemos de conta que nos importamos porque faz parte da estratégia para conseguirmos realizar nossa vontade).

Então, estou aqui. Completamente envergonhada por não conseguir anestesiar meu sentimento coletivo. Por não conseguir calar minha dignidade. E peço perdão por ser assim tão inadequada... Não consigo mesmo criar esses hábitos!

Quem saber algum psicólogo, psicanalistas, sociólogo, médico ou filósofo amigo, ou aqueles que por um acaso tenham recaído os olhos aqui nessa infeliz crônica... Qualquer um que saiba, me ajude: O que há errado comigo? Porque eu não consigo calar essa dor que me vem a cada deslealdade, a cada insensibilidade, a cada morte de todos os sentimentos que um dia foram considerados bons?

Acho que alguns de nós não são normais. Alguns de nós não aprenderam a lidar com o mundo cão que se levantou ao nosso redor. Alguns de nós simplesmente não conseguem deixar de se importar... não só com o próximo, mas com qualquer um.

Falando nisso, é também a morte um fato que muito de nós não se acostuma. Mas como disse lá no início, talvez seja uma estratégia... uma estratégia da vida...

A morte, talvez, seja o único acontecimento a que ninguém se habitua. Seja pero ou longe. Seja de conhecidos ou de ilustres desconhecidos. Sejam muitos, ou poucos (se bem que já haja quem diga: Ah! menos mal... só morreu um????). A morte não é algo fácil de se habituar. O fato em si talvez... a ideia da perda permanente não!

Por que seria uma estratégia da vida? Porque talvez assim, diante da morte, da perda irremediável possamos lembrar que fomos feitos pra sentir mais que autopiedade. Talvez lembremos que o tal mandamento daquele "cara" que a maioria nem lembra mais quem é, não é: Ame a si mesmo, e sim, ame o outro como você ama a si mesmo! - A propósito, o nome dele era Jesus... e precisou morrer pra ver se atingia o coração endurecido de alguns!

Uma pena que só após a morte, física ou não, é que percebemos o quanto se perdeu, o erro cometido ou a escolha imprópria. Mas a morte, física ou do sentimento, costuma ser definitiva. O que é uma pena... Uma dor... o luto! é uma boa estratégia... Infelizmente, pra alguns de nós cujos sentimentos estão sempre 'à flor dos nervos', até nisso há uma dor necessária, que precisa de outra boa estratégia para que se consigo continuar: O Tempo!

E aqui, completamente inadequada pra essas pessoas que aprenderam a se preocuparem somente consigo, altamente inapropriada para ser companhia de quem tem por hábito simplesmente não sentir nada que vá além de um egoísta amor próprio, terminantemente estranha à esse mundo umbiguista, eu, deslocada, terrivelmente falha e humana, termino essa crônica em luto!

Parte do que sinto e divido aqui nessas linhas certamente tem a ver com as dores que me foram impostas... deve ser uma luz do egoísmo comum a todos aflorando em mim... quem sabe haja esperança para que eu ao menos ganhe uma marquinha ou uma máscara para poder conviver entre os ditos normais. Talvez seja só indignação contra mim mesma de em meio a tudo que se passa ainda pensar na dor alheia ao invés de só na minha, como é o "habitual". Quem sabe eu não tenha mesmo jeito?! Enfim...

Aqui jaz a certeza, no mesmo solo batido onde floresce o botão tímido da esperança! Esperança de que tenha sobrado mais uns deslocados, inapropriados e mal vistos seres realmente humanos.

Então... mais uma xícara de café...

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