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26 setembro, 2017

Quando escrever e respirar tornam-se difíceis...

Por Cau Alexandre

Escrever é um desafio.

Não há como não entender isso. Nós aprendemos a falar intuitivamente. Saímos de meros balbuciados à palavras inteira
s sem muito esforço. Ouvimos as pessoas ao nosso redor falando o tempo todo. Tentamos imitar seu tom de voz, sua entonação e os trejeitos enquanto despejam anos e anos de fala em nosso pueril ouvido. Mas escrever é outra coisa.


Adoramos desenhar, mas é estranho ver nosso colorido divertimento e nossa brincadeira favorita transformar-se em obrigação. É definitivamente estranho ver nossos já tão conhecidos sons transformarem-se em desenhos oblongos e sem graça agarrados a outros desenhos sem graça e dizem-nos que aquilo á nossa frente no papel descolorido é o mesmo que o que nossa imaginação um dia nos fez ver. 

Escrever é definitivamente um desafio à imaginação.

E estou eu aqui, repassando na mente todos os anos que me vem à lembrança procurando um único tema, uma letra inspiradora, uma frase que me faça transbordar em um pequeno texto que me traga novamente a possibilidade de respirar, pois escrever é quase um fôlego de vida para àqueles que um dia que encontraram o fugaz prazer em perceber seus pensamentos mais profundos transformados em palavras unicoloridas capazes de fazer sonhar.

Respirar palavras é tão bom e tão viciante quanto qualquer outro alucinógeno. Respirar palavras nos transporta a mundos que não existem, até os criarmos. É bom, é ótimo, é excelente... Até nos depararmos com a angústia da ausência das palavras. 

E depois das dores, da abstinência, da falta que o ato viciante de criar mundos e vidas de papel, quase um ato profano de criação, paramos. E fica um vazio. Uma falta. E esquecemos. Rabiscamos, mas esquecemos. E deixamos de lado. E esquecemos.

Mas quem esquece de respirar? O fôlego precisa ser recobrado. O ar cobra o seu lugar. E uma escolha precisa ser feita: Ou recobramos o ar e retomamos à vida, ou desistimos do complexo de criação e definhamos até a completa e total morte da palavra. Um afogado, um suicida, um desistente.
Sou imperfeita. Preciso de ar, preciso emergir... E voltar ao velho vício das palavras. Um ciclo viciante e vicioso que traz vida.

Eis aqui um novo marco. O marco de recomeço...

Dois dedos de prosa, um pouco de ar, uma tragada de inspiração, um copinho de transbordamento... E então, voltamos.




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