Inferno Astral! Já ouviu falar? Não sei quem inventou essa joça, mas creia (ou não) há um período bem próximo ao dia em que a vida nos dá mais um dígito no qual tudo parece literalmente cair sobre a sua cabeça. Os ombros carregam o mundo, o mundo te dá as costas, a vida fica descolorida, sua cabeça parece não ter mais rumo certo nem centro (Exagero? Concordo... Mas o que seria de um inferno astral sem uma boa hipérbole?). Eis o seu particular inferno astral. E eu estou no meu.
Pensei no tal inferno de Dante, dor e sofrimento ladeado por uma porta magnífica, como que zombando de você. A última visão da arte e não é à toa que é arte, dor e beleza unidas... Nenhum filósofo discordaria, nenhum poeta romântico ousaria divergir e nem João Cabral de Melo Neto diria diferente. Que dor artística seria maior que viver?
Nos conselhos que se seguem ao fato de se entrar no inferno astral está o de aproveitar os dias turbulentos para pensar na vida, fazer um balanço do ano que se passou, traçar metas, olhar pro futuro. Fala sériooooooooooooooo! No meio da turbulência eu mal consigo alcançar o saquinho pra conter o meu enjôo. Como vou pensar? Meu inferno astral reside justamente no fato de que estou cansada das receitas prontas, da mão no meu ombro dizendo que uma atitude 'pró-ativa' vai ser melhor, que 'até foi bom terminar assim'. Foi bom o escambau! Eu quero ser birrenta e bater o pé. Eu quero espernear como nunca fiz na vida (problema de se ter uma mãe paciente mas muitoooooooo brava e dona da situação... Quando achava porquê espernear, ou ela já tinha resolvido o caso ou simplesmente me fulminava com o olhar que me dizia 'você sabe em que enrascada está se metendo, mocinha?).
O fato é: Inferno astral nenhum vai derrubar minha auto-estima, minha certeza de quem eu sou ou de qual é o meu real valor. Nenhum mal estar cósmico tira de mim o domínio de mim mesma, o direito que me é dado pelas eras de ser exatamente o que eu quero ser. Mas aproveito esse inferno astral pra chorar todas as minhas dores que não têm palavras, os meus amores guardados nos cantinhos da alma. Quero rasgar o meu peito e deixar meu coração a olhos vistos para que vejam como é ser gente de verdade. Aproveito pra derrubar minhas muralhas, despir minhas couraças, pôr por terra as minhas máscaras necessárias e ser só um Ser.
Isso não é tão fácil, primeiro por ser um exercício muito perigoso de autoconhecimento e uma prova muito grande de que se sabe o caminho de volta. Segundo, porque as pessoas ao redor não estão acostumadas a esse tipo de sinceridade para consigo mesmas e vai ter sempre alguém achando que você surtou, enlouqueceu ou está a ponto de se jogar da primeira janela aberta. Talvez porque olhar a si mesmo 'nu' de todas as crostas que carregamos ao longo da vida seja algo tão terrível que uma grande maioria evite... ou não aguentem. E de fato, sei o quanto pode parecer assustador pra alguns e assim sendo termina-se por silenciar, para não assustar os desavisados.
Nesse meu inferno astral não quero traçar planos, nem olhar pra fora, pra longe, pro futuro... Quero olhar pra mim. Quero matar as saudades de mim mesma. Quero lembrar cada lágrima que derramei por amar. Quero rever cada rosto que me fez sorrir, chorar e ter a certeza que eu ainda sou gente de carne, osso e coração.
Estou abrindo meus arquivos, olhando dentro da minha caixa de Pandora, porque se o mal dela já fugiu, quero ver o que bom ficou.
E no final de tudo, quando o tal inferno astral passar, vou sair de dentro de mim mesma. Fechar os arquivos, tampar o baú, dobrar cuidadosamente os rostos e lembranças, sossegar a saudade. Então, com tudo revisitado, limpo, arejado, e pronto a ficar lá, até novamente ser necessário olhar, sairei de mim! Não sei como, não sei se mais forte, mais fraca, mais frágil, mais firme. Mas terei a certeza que posso olhar pra frente, pois nada pode ser mais duro que olhar dentro de si e sobreviver!
Até o próximo cafezinho...
Um comentário:
Amadinha, só mesmo vc pra escrever tão lindamente sobre as mazelas do inferno astral...Estou vivendo o meu tb e o máximo que tenho conseguido é me esquivar de não ser enjaulada por quem está próximo...rs
Amo suas letrinhas ! Sempre um prazer acompanhar vc !
Beijo carinhoso,
Vic
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