Vi a notícia numa dessas postagens tão comuns das redes sociais. Não tem nome, não tem procedência, nem localização, por vezes, não tem nem rosto visível. Só manchete! Não é algo novo, os meios de comunicação gostam do sensacionalismo e sempre gostaram. Só mudou de nome e plataforma, como tudo ultimamente (e isso é assunto pra outro texto).
Olhei para a postagem num misto de espanto e aborrecimento, que só os que nasceram velhos têm. As coisas do mundo nos abismam e ao mesmo tempo já nos são tão comuns que nos indignam de tão corriqueiras. Imagina agora que sou velha mesmo.
A cena não é incomum, é só ultrajante. Pessoas adultas não sabem mais o que é amadurecer. Uma sociedade de "Peter Pans", mas sem o glamour da Disney. Não é que estejamos nos recusando a crescer para usufruir da vida ingênua e infantil indefinidamente. Não se cresce porque não se sabe como. Não é a escolha, é um desconhecimento por opção. É triste e profundamente angustiante. Somos a sociedade da informação, do conhecimento que nos chega rápido como um raio (ou mais ainda), da profusão de saberes e, ainda assim, ignorantes de tudo. Principalmente ignorantes de todo o saber construído antes de nós, conosco e que se deixará como legado.
Como pequenos animais domésticos, estamos afogados em um grande número de treinadores, que já se chamaram de "coach", mas dado o turbilhão de péssimos usuários do nome, agora são mentores, que ao menos voltou para a língua portuguesa, mas cujo o título reveste os mesmos indivíduos que, embora carecendo para si mesmos dos próprios conselhos, dizem saber muito, mas que estão no mesmo nível de seus mentoreados (peço perdão pelo uso do termo existente e já em uso em língua portuguesa, antes do aportuguesamento do termo exportado do inglês. O que nos leva novamente às mudanças para dar "cara de novo" àquilo que já existe, mas novamente, é assunto pra outro texto).
É assustador, sim. Como assustador é escrever sobre isso. Sinto-me velha, rabugenta e pedante, um horror. Mas quer saber? Por que eu não poderia? Num mundo em que todos podem dizer o que querem, sem filtro e sem se importar com o sentimento alheio, unicamente porque podem, por qual motivo eu também não poderia dizer aquilo que me foi fincado na alma ao longo dos meus muitos anos de vida? Por que não poderia dividir o que me trouxe a maturidade adquirida ao longo de uma vida de observação e reflexão, que já nasceu dotada de senso crítico (como todo e qualquer ser humano, é bom se dizer)?
Então, despindo-me da minha "vergonha alheia" e caindo de cabeça no poço cheio de obviedades, que parecem não serem tão óbvias assim, vou sim criar meu minúsculo "Manuel da vida para iniciantes". Com toda licença poética que a escrita me confere, é claro. Não é que eu saiba tudo (ou muito), mas eu sei de uma ou duas coisinhas que demonstram ser do conhecimentos apenas de uns indivíduos que semelhantemente concatenam de raciocínios lógicos e críticos, que antes de mim, ou comigo, estão tentando gritar ao vento um ou outro aprendizado, na esperança de que alguém ouça, ou que se preste atenção. A realidade, é que está ficando cada vez mais raro e difícil de se achar esses indivíduos, talvez por cansaço, modelação ou extinção mesmo. Mas na iminente falta de quem diga qualquer coisa que não seja através de uma dancinha embalada por uma letra tosca, alguns ainda se prestam a essa papel. E lá vou eu, repassar o que já foi devidamente testado na vida, não só minha, mas daqueles que vieram antes de mim, deixando seu legado impresso na minha história e que me deram a autoridade, sem diploma, de viver digna e maduramente. O que, na atualidade, já é uma riqueza imaterial sem precedentes.
Infelizmente, não serei "coach" ou mentora. Apensa exercerei o meu papel: ensinarei daquilo que aprendi, o que na verdade é minha função profissional na vida, e que me sinto na obrigação de dizer que é o que professores fazem. Porque, ao que parece, em algum momento, aqui entre nós, dizer-se "professor" tornou-se pejorativo. Deve ser pelos retornos financeiros ínfimos, possivelmente.
Aviso, com muita veemência, que não estou oferecendo fórmulas mágicas, tutoriais, modelos perfeitos, fechados e testados, com selo ISO e tudo mais. E peço desculpas sinceras se você chegou até aqui no texto achando que seria isso que encontraria ao final, mas não é (e olha só, você chegou até aqui!). Então, que fique claro, você não é obrigado a ler, opinar ou muito menos concordar. Entendo esse espaço como um grito solitário, junto de outros gritos solitários em busca de eco em algum ouvido interessado. Se não for seu caso, pode passar adiante (ou rolar pra cima, pra baixo, de lado, ou seja lá para onde estivermos rolando a vida atualmente) e fazer de conta que nunca esteve aqui, neste texto.
Caso volte, para outras inserções, saiba que será mais como uma conversa de pé de janela, na varanda de casa, uma prosinha no barzinho da esquina, aquele papo descontraído com o estranho no banquinho da praça ou com o tom circunspecto daquelas conversas sérias que acontecem com nossos pais uma vez na vida, antes que eles se vão.
Então, nesse pequeno espaço concedido a nós pelo texto, munida de uma xícara de café (cancelado ou não, dependendo da época em que você leia estas linhas), travaremos nossos dois dedos de prosa, desvendando o fantástico mundo dos seres vivos, ditos inteligentes e racionais.